PALAVRA DE VIDA
Servia a Deus com jejuns e orações... (Lc 2,36-40)
A
vida tem etapas. Todas elas têm seu sentido. O evangelista São Lucas “gastou”
apenas três versículos para registrar a presença de uma profetisa que teria
passado despercebida entre os anjos e os magos do Natal. Na juventude, Ana se
casara. Acompanhara o marido por sete anos. Depois enviuvou e atingiu a idade incomum,
na época, de oitenta e quatro anos. Mas a velhice não a reteve nos bordados e
na cadeira de balanço: não saía do Templo, servindo a Deus com jejuns e
orações.
Hoje,
em plena sociedade de produção e consumo, as pessoas costumam ser avaliadas por
sua produtividade e eficiência, de modo que os idosos, não raro, são vistos
como “bananeira que já deu cacho” – assim dizem os roceiros. Considerados um
peso inútil, os idosos correm o risco de introjetar essa imagemnegativa,
deixando de lado oportunidades reais, típicas da velhice.
É
o caso do vovô que está sempre disponível para ouvir os netos. Mas é também a situação
da vovó que passa boa parte de seu tempo debulhando as contas do rosário,
verdadeira boia de salvação para muitos familiares que andam longe de Deus.
Os
homens práticos se dedicam de bom gosto à vida ativa, vendo-se recompensados
pelo fruto de seu trabalho pelo Reino de Deus, inclusive a ação pastoral e a
evangelização, ao menos enquanto o corpo jovem o permite. E, natural, corremos
o risco – observa o teólogo Garrigou-Lagrange – de “exagerar a
necessidade de nossa cooperação, diminuindo a necessidade da oração e
desprezando a eficácia de nossas súplicas e a atuação da Providência, que tudo
dirige. Seria isto uma espécie de naturalismo prático. As almas provadas devem,
ao contrário, rezar particularmente, pedir o socorro de Deus para perseverarem
na fé, na confiança e no amor. É preciso dizer-lhes que, nessa dura provação,
se continuam a rezar, este é um sinal de que, apesar das aparências, elas são
atendidas; é que não se pode continuar a rezar sem uma nova graça atual. E Deus
que, desde toda a eternidade, previu e quis nossas orações, suscita-as em nós”.
Bendita velhice que corta nossas asas, acostumadas a voarem alto, poda nosso orgulho, mas não rouba de modo algum a nossa “utilidade” para a Igreja, pois ainda nos permite uma vida dedicada à oração, que carrega permanentemente as baterias da máquina da Igreja!
Orai sem cessar: “Ainda na velhice eles darão frutos...”
(Sl 92,15)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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