PALAVRA
DE VIDA
Ou devemos esperar por outro? (Lc 7,19-23)
A
leitura do Antigo Testamento, desde a Aliança de Deus com o velho Abraão até a
véspera de João Batista, mostra-nos Israel como um povo que espera. Herdeiro
das alianças e receptor das promessas, Israel vivia em permanente tensão, como
“vigia esperando a aurora” (cf. Sl 130, 6-7), olhos fixos no horizonte do
futuro, de onde viria o Ungido de Deus, isto é, o Messias prometido.
Basta,
por exemplo, um rápido exame do livro do profeta Isaías – conhecido como
autêntico Proto-Evangelho – para ver todo o bem que se esperava com a vinda do
Messias prometido por Deus: um novo caminho (2,3); espadas trocadas por arados
(2,4), isto é, a Paz; luz nas trevas (9,1); libertação (19,20); lágrimas
enxugadas (25,8); um derramamento do Espírito (32,15); o perdão dos pecados (33,24);
a alegria definitiva (35,1) e, acima de tudo, a presença de Deus no meio de seu
povo, na figura do Emanuel (7,14).
É
natural que toda expectativa abra espaço a decepções. E elas vieram. Ao longo
de sua história, Israel viu o surgimento de pseudoprofetas e falsos messias,
que levaram o povo a graves desvios de corrupção e a revoluções tão sangrentas
quanto inúteis. Por tudo isso, faz sentido a pergunta dos emissários de João:
“És tu aquele que há de vir – isto é, o Messias prometido – ou devemos esperar
por outro?”
Jesus
não lhes dá uma resposta direta de imediato. Os enviados de João deviam
presenciar pessoalmente os gestos e as ações de Jesus, que encarnavam na
prática as promessas transmitidas pelos antigos profetas: enfermos curados,
possessos libertados, paralíticos mobilizados, mas – acima de tudo – a Boa Nova
anunciada aos pobres. Só então Jesus lhes diz: “Agora, voltem a João Batista e
narrem para ele o que vocês viram e ouviram”.
Passaram
20 séculos. Jesus Cristo já morreu e ressuscitou. Seus discípulos mantêm acesa
a chama que o Mestre acendeu, em um revezamento trans-histórico que atravessou
as gerações e os impérios. Como Jesus prometeu voltar, para julgar os vivos e
os mortos, levando a seu coroamento toda a Criação, em novos céus e nova terra
(cf. Ap 21,1), o novo Israel, a Igreja, continua a esperar.
Podemos
chamar esta virtude de “esperança”. Ou de “fidelidade”, se é que não são
sinônimos. E ainda ressoa aos nossos ouvidos a bem-aventurança de Jesus:
“Bem-aventurado aquele que não se escandaliza a meu respeito!” (Lc 7,23)
Orai sem cessar: “O olhar do Senhor vigia sobre quem espera
na sua graça!” (Sl 33,18)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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