PALAVRA
DE VIDA
Onde estás? (Gn 3,9-15.20)
Na
alvorada da história humana – ainda no terceiro capítulo da Sagrada Escritura!
– já podemos encontrar o Deus Criador à procura do homem. Enfurnado em um
recanto do Jardim, vestido de culpa e de nudez, o homem parece evitar o
encontro de todos os dias. E ressoa pelo Éden o chamado divino: “Onde estás?”
Segue-se
o diálogo entre o Criador e o primeiro casal. Neste episódio, a mulher aparece
como colaboradora da ruptura com Deus, motivada pela ilusão de serem “como
Deus” (cf. Gn 3,5). É sugestivo que a liturgia da Igreja escolha exatamente
esta passagem ao celebrar a solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora.
Trata-se de estabelecer um paralelo – ou melhor, um contraste – entre duas
mulheres: Eva e Maria. Aquela que foi o vetor da morte e aquela que foi a
matriz da Vida.
No
diálogo com Eva, o Criador procura orientar o olhar dela para um tempo futuro,
quando um Descendente da mulher (cf. Gn 3,15) seria vencedor do mal que se
espalhara pela Criação a partir da desobediência original. Assim, se uma mulher
participara da Queda, outra Mulher participaria do reerguimento da humanidade.
Após a degeneração da raça, um tempo de regeneração.
Os
Padres da Igreja, desse os primeiros séculos do cristianismo, acentuaram o
contraste entre as duas mulheres. Eva foi extraída do lado do primeiro Adão; do
ventre de Maria nasceu o novo Adão, o Salvador Jesus. E não deixa de ser
admirável que esta celebração recorde também a promoção da Mulher a alturas
inimagináveis, pois o próprio Deus a escolhera como colaboradora da Encarnação
do Verbo.
Ao
comentarem esta passagem do Gênesis, conhecida como um “proto-evangelho”, os
Padres da Igreja viram Maria como a “segunda Eva”, unida de modo esponsal ao
segundo Adão, e mãe de todos os que foram arrancados das sombras da morte e
voltaram a ser “viventes” com a vida que brota do Ressuscitado.
De
fato, a saudação angélica na cena da Anunciação, quando Gabriel nomeia Maria de
Nazaré como “cheia de graça”, isto é, sem nenhum espaço para o mal, afirma de
modo positivo a concepção imaculada da futura Mãe de Deus. A forma verbal grega
utilizada por São Lucas no Evangelho da Anunciação [kecharitoméne] bem
merece a tradução: “Tu que foste e permaneces repleta do favor divino” (BJ,
nota ‘t’).
E
os poetas da Liturgia das Horas se divertem com o trocadilho EVA / AVE, onde a
Igreja reconhece as glórias de Maria “mutansHevae nomen”...
Orai sem cessar: “É a voz do meu Amado!” (Ct 2,8)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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