segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

 

PALAVRA DE VIDA

Ele me vestiu de salvação...(Is 61,1-2a.10-11)

                Desde o Gênesis, a perda da graça e da comunhão com Deus foi apresentada como um estado de nudez (cf. Gn 3,10). Sem estas vestes, o homem fica desarmado diante das ameaças de um Cosmo ameaçador. Não admira que, mesmo ao iniciar o exílio do Éden, o primeiro casal tenha sido “vestido” pelo Criador com roupas de peles (cf. Gn 3,21). Aliás, exatamente a mesma roupa que iriam vestir os profetas enviados por Deus para anunciar sua misericórdia (cf. 2Rs 1,8; Mt 3,4), a ponto de serem identificados por suas vestes.

                Uma das parábolas de Jesus (cf. Mt 22,11) nos dá notícia de um convidado para as bodas que acabaria expulso do banquete por não estar trajado com a veste apropriada. Ao contrário, no Apocalipse, uma legião de eleitos de Deus é reconhecida por ter suas vestes “lavadas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14).

                A pregação dos apóstolos também iria chamar a atenção para os efeitos do batismo cristão, que vinha “revestir” os catecúmenos com a veste da graça divina. Escrevendo aos colossenses, Paulo recorda: “E vos revestistes do homem novo, o qual vai sendo sempre renovado à imagem do seu Criador”. (Cl 3,10) Assim, a “imagem” apagada pela Queda original era restaurada na humanidade pela nova veste batismal.

                Na Carta aos Gálatas, Paulo também iria escrever: “Vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo” (Gl 3,27); assim ele deixa bem claro um dos três principais efeitos do batismo cristão: a configuração com Jesus Cristo. O apóstolo insistiria no tema ao escrever aos Efésios: “Precisais renovar-vos, pela transformação espiritual de vossa mente, e vestir-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, na verdadeira justiça e santidade”. (Ef 4,23-24)

                A veste em questão não pode ser apenas um enfeite, mas é o sinal exterior de uma iluminação interior. É assim que a Mulher de Apocalipse 12 aparece “vestida de sol” [amicta sole], evidenciando a que ponto seu espelho de máxima pureza reflete o Sol da justiça, que é o próprio Senhor, em um grau extremo de identificação com ele.

                A liturgia da Igreja recorre habitualmente ao Salmo 45[44] para fazer sua aplicação à entrada da Mãe de Deus no céu, em sua Assunção, na figura de Filha de Sião. Ali está a rainha, “vestida de ouro de Ofir”; “tecido de ouro é seu vestido”; ela é “apresentada ao rei com preciosos bordados”. E nada dessa excepcional beleza ela teria, se não lhe fosse dada pelo próprio Rei...

                Seja Maria, seja a Igreja, seja cada alma, é a veste da Graça que a todos envolve...

Orai sem cessar:“Ó minha amada, não há mancha em ti!” (Ct 4,7)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário