quarta-feira, 18 de novembro de 2020

 

PALAVRA DE VIDA

Caminhando sobre as águas... (Mt 14,22-33)

                O impulsivo Simão Pedro se arrisca – mais uma vez! – a ir além de seus limites: “Senhor, manda-me ir ao teu encontro caminhando sobre as águas!” Seu ímpeto de fé durou bem pouco. Nada que devamos criticar no velho pescador, pois não é muito diferente a nossa navegação na fé. O itinerário espiritual do cristão bem se assemelha a uma caminhada sobre o caminho líquido e inseguro de nossas tempestades existenciais.

                Orígenes, um Padre da Igreja do Séc. III, assim comenta esta passagem do Evangelho:

                “Se um dia nós somos assaltados por inevitáveis provações, lembremo-nos de que foi Jesus que nos ordenou embarcar, e ele quer que o precedamos na outra margem. De fato, para quem não suportou a prova das vagas e do vento, é impossível chegar a essa margem. Assim, quando nos acharmos cercados por dificuldades múltiplas e penosas, fatigados de navegar no meio delas com a pobreza de nossos meios, imaginemos que nossa barca está no meio do mar, agitada pelas ondas que nos gostariam de ‘fazer naufragar na fé’ (cf. 1Ti 1,19) ou em qualquer outra virtude. E se nós vemos o sopro do maligno se encarnar contra nossas iniciativas, imaginemos que nesse momento o vento nos é contrário.

                Quando, pois, entre esses sofrimentos, nos tivermos sustentado durante as longas horas da noite escura que reina nos momentos de provação, quando tivermos lutado da melhor maneira para evitar o naufrágio da fé, podemos estar seguros de que, no fim da noite, ‘quando a noite for avançada e já chegando o dia’ (cf. Rm 13,12), o Filho de Deus virá para perto de nós, caminhando sobre as ondas, para nos tornar o mar favorável.

                E quando virmos o Verbo aparecer-nos, seremos tomados de perturbação, até o momento em que compreendermos claramente que é o Senhor que se apresenta a nós. Ainda crendo ver um fantasma, gritaremos de medo; mas ele logo nos dirá: ‘Tende confiança, sou eu; não tenhais medo!’

                Talvez estas palavras confortadoras façam surgir em nós um Pedro animado de grande ardor, que descerá da barca, certo de ter escapado aprovação que o abalava. De início, seu desejo de ir diante de Jesus o fará caminhar sobre as águas. Mas sua fé, ainda insegura, e ele mesmo em dúvida, notará força do vento, ficará com medo e começara a afundar.

                No entanto, ele escapará a esse desastre, pois lançará para Jesus um grande grito: ‘Senhor, salva-me!’ E tão logo este outro Pedro tiver acabado de gritar: ‘Senhor, salva-me!’, o Verbo lhe estenderá a mão para lhe dar socorro...”

                E a barca da Igreja segue em sua navegação...

Orai sem cessar: “Salva-me, ó Deus, que as águas me afogam!” (Sl 69,1)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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