PALAVRA DE VIDA
São
como crianças...(Lc 7,31-35)
Em outra passagem do Evangelho,
Jesus manda imitar as crianças em sua simplicidade e ternura filial, chamando a
Deus de “Abbá”, “paizinho”. Desta vez, porém, o comportamento infantil
(ou melhor, infantilizado) torna-se alvo da censura do Mestre. É que Jesus de
Nazaré não correspondia à expectativa de muitos, que se punham a reclamar, a
achar defeitos em Jesus, a ponto de lhe dar o rótulo de endemoninhado.
Não sem humor, Jesus compara seus
críticos às crianças imaturas e insatisfeitas que vivem chorando e reclamando.
Na Palestina de seu tempo, havia duas ocasiões que marcavam profundamente a
vida do povo: os casamentos e os funerais. Nestes, as mulheres faziam o
importante papel de carpideiras, chorando estrepitosamente o falecido, diante
dos lamentos proferidos pelos homens. Já nos casamentos, os homens eram
encarregados da música, enquanto as mulheres dançavam.
Assim como em nossa cultura, as
crianças gostam de brincar imitando os adultos. Na Palestina, brincavam
exatamente de casamento e de enterro. E acontecia que alguém propunha um
brinquedo e o outro discordava, provocando o mau humor (e até o choro) da
criança que fizera a proposta. Esta é a imagem usada por Jesus para denunciar a
má vontade dos fariseus e doutores da lei, que não quiseram “jogar o jogo” que
Deus lhes oferecia em Jesus... “Tocamos flauta, e não dançastes... Entoamos
queixumes, e não chorastes...” Umas crianças emburradas!
Seria também o nosso caso? Temos
queixas e reclamações contra o Espírito de Deus que fala através da Igreja?
Nosso Deus nos tem decepcionado quando faz propostas que não correspondem a
nossos comodismos e preferências? Continuamos incapazes de “dançar conforme a
música”? Faremos como Simão Pedro que achou prudente dar um puxão de orelhas no
seu Mestre?
Talvez seja esta a explicação para
muitas “conversões” (com aspas, por favor!), quando trocamos de paróquia ou até
de Igreja porque as coisas não correram como nós esperávamos... Tínhamos um
mapa mental e a receita ideal para a religião. Aí, a realidade destoou de
nossos projetos e não fomos capazes de dar uma resposta ao desafio que nos era
oferecido. Saímos chorando – imaturos e infantis – como os menininhos da velha
Palestina...
Orai sem
cessar: “Na minha noite, me fazes conhecer a sabedoria.” (Sl 51,8)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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