PALAVRA DE VIDA
Não devias ter compaixão?(Mt 18,21-35)
Neste Evangelho está registrada uma
das parábolas de Jesus que contém o mais forte apelo à misericórdia: a parábola
do servo cruel. Misericórdia e crueldade (palavra que pouco se ouve, como
velada por certo medo de reconhecê-la em nós mesmos...) balizam os polos
opostos no tratamento do erro humano. De nossas falhas. De nossos pecados...
Nós podemos escolher o exemplo do
roubo, do latrocínio, do desvio de verbas, da corrupção em geral. Desde a
antiguidade, os códigos de leis estabeleceram punições para os infratores, que
podiam variar desde as chicotadas até a prisão do criminoso e a amputação da
mão que havia roubado. Nesta mesma parábola, a sentença inicial do rei fora a
venda do corrupto como escravo, incluindo mulher, filhos e todos os seus bens.
Por outro lado, os mesmos códigos
previam igualmente que o rei ou o governador pudesse agraciar o criminoso com
algum tipo de indulto, revogando a pena anteriormente imposta. Foi o caso de
Barrabás, no episódio da Paixão de Cristo (cf. Mt 27,21).
A mensagem de Jesus Cristo é bem
mais exigente e vai além da justiça meramente humana. O servo cruel, arvorado
em acusador do companheiro, acabava de receber o perdão do rei. Aliás, perdão
imerecido, motivado pela simples compaixão do poderoso. Pois é esta a nossa
situação: pecadores que somos, fomos perdoados pelos méritos de Jesus, que deu
a vida por nós, como vítima vicária. Já que somos devedores insolventes e fomos
alvo da misericórdia divina, com que direito iríamos assumir a condição de
acusadores de nossos irmãos?
Assim, estamos diante de um convite
a reconhecer a fragilidade de toda pessoa humana. Quando esta se manifesta, é
hora de recordar que também nós seríamos capazes de cometer algo semelhante. E
lembrar que só a graça de Deus nos permite evitar os mesmos pecados.
“A graça é geradora de uma vida
nova, ou então ela não é a Graça de Deus. Ela marca o começo, e não o fim de
nossas relações com Deus. O pecador justificado pela graça permanece – e é
nisso que consiste a santificação – sob a ação da graça. Se esta é desconhecida
ou esquecida, se nós nos mantemos, como o servo cruel, fora da presença do
Senhor, voltamos a cair na condenação de sua justiça.” (H. Roux)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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