segunda-feira, 14 de setembro de 2020

 

PALAVRA DE VIDA

Não devias ter compaixão?(Mt 18,21-35)

            Neste Evangelho está registrada uma das parábolas de Jesus que contém o mais forte apelo à misericórdia: a parábola do servo cruel. Misericórdia e crueldade (palavra que pouco se ouve, como velada por certo medo de reconhecê-la em nós mesmos...) balizam os polos opostos no tratamento do erro humano. De nossas falhas. De nossos pecados...

            Nós podemos escolher o exemplo do roubo, do latrocínio, do desvio de verbas, da corrupção em geral. Desde a antiguidade, os códigos de leis estabeleceram punições para os infratores, que podiam variar desde as chicotadas até a prisão do criminoso e a amputação da mão que havia roubado. Nesta mesma parábola, a sentença inicial do rei fora a venda do corrupto como escravo, incluindo mulher, filhos e todos os seus bens.

            Por outro lado, os mesmos códigos previam igualmente que o rei ou o governador pudesse agraciar o criminoso com algum tipo de indulto, revogando a pena anteriormente imposta. Foi o caso de Barrabás, no episódio da Paixão de Cristo (cf. Mt 27,21).

            A mensagem de Jesus Cristo é bem mais exigente e vai além da justiça meramente humana. O servo cruel, arvorado em acusador do companheiro, acabava de receber o perdão do rei. Aliás, perdão imerecido, motivado pela simples compaixão do poderoso. Pois é esta a nossa situação: pecadores que somos, fomos perdoados pelos méritos de Jesus, que deu a vida por nós, como vítima vicária. Já que somos devedores insolventes e fomos alvo da misericórdia divina, com que direito iríamos assumir a condição de acusadores de nossos irmãos?

            Assim, estamos diante de um convite a reconhecer a fragilidade de toda pessoa humana. Quando esta se manifesta, é hora de recordar que também nós seríamos capazes de cometer algo semelhante. E lembrar que só a graça de Deus nos permite evitar os mesmos pecados.

            “A graça é geradora de uma vida nova, ou então ela não é a Graça de Deus. Ela marca o começo, e não o fim de nossas relações com Deus. O pecador justificado pela graça permanece – e é nisso que consiste a santificação – sob a ação da graça. Se esta é desconhecida ou esquecida, se nós nos mantemos, como o servo cruel, fora da presença do Senhor, voltamos a cair na condenação de sua justiça.” (H. Roux)

Orai sem cessar: “Sede imitadores de Deus!” (Ef 5,1)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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