PALAVRA DE VIDA
Ficaram indignados... (Mt 15,1-2.10-14
Este Evangelho registra a indignação
dos homens da Lei judaica diante da pregação de Jesus de Nazaré, que opunha ao
ensino moralista e casuístico dos fariseus uma atitude de ampla liberdade,
reconduzindo a prática religiosa ao essencial e libertando-a das picuinhas com
que os maus mestres envenenavam o povo.
E a reação de Jesus diante dessa
indignação raia pelo desprezo: “Deixai-os!” É o mesmo que dizer: “Esqueçam essa
gente! Joguem fora esse ensinamento!” Com isso, os “mestres de Israel” (cf. Jo
3,10) caíam em descrédito e perdiam sua pretensa autoridade moral e espiritual
junto à população.
Em nossos dias, repete-se o triste
cenário dos pregadores que reduzem a Boa Nova de Jesus a um conjunto de
fórmulas e receitas prontas que apenas contribuem para tornar distante e
antipático o Filho de Deus que deu sua vida por nós. Aquele que veio como
libertador acaba apresentado como uma camisa de força. Troca-se o fiel animado
pela liberdade do Espirito Santo por uma espécie de múmia sem alma e sem
coração.
Jesus prega um “Evangelho do
coração”, uma lei interior justificada pelo amor, livre de quinquilharias que
só servem para conservar o crente em vidros de formol. Jesus troca a pureza ritual,
buscada em gestos exteriores, pela pureza do coração.
O biblista HébertRoux comenta:
“Aqui, como na maior parte dos textos evangélicos, o coração designa o ser
humano enquanto dotado de vontade e capaz de dedicação e afeto. O erro dos
fariseus e de suas prescrições formalistas consiste em crer que a impureza é
exterior ao homem, e que é possível preservar-se dela graças a algumas
precauções e cerimônias. Sua prática ritual tem por efeito produzir uma falsa
obediência e uma falsa liberdade, pois elas submetem as almas a alguma coisa
que não é Deus; favorecem o afastamento do coração que se considera livre de
dívida, a baixo preço, em relação às reais exigências da Lei”.
De fato, em nosso encontro
definitivo, o Senhor não vai perguntar se lavamos as mãos antes do jantar, mas
se viemos para o festim nupcial com o coração cheio de amor e de misericórdia.
E a misericórdia prevalecerá sobre as mãos sujas...
Orai sem
cessar: “É para a
liberdade que Cristo nos libertou...” (Gl 5,1)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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